Estávamos eu, Olivenbaum e Isabela sentados na praça dos leitões, suspensos num ponto indefinível entre a onda e a lombra, quando Fernandinho dobrou a esquina. Como dizem os cariocas: ele brotou. Todos nós o vimos e não conseguimos desvê-lo. Lépido como um suíno n’água, monstrando todas as suas sessenta e quatro canjicas, Fernandinho em instantes já estava plantado na nossa frente.
Lançou a mão à frente estalando os dedos, finta barata. Vocalizou:
— Ou. Literalmente, cês fragam? Todo mundo fala literalmente errado, bota fé? Trudia amigo meu falou: véi, a fessôra vai literalmente comer meu cu com essa prova. Daí um carinha foi zuar ele perguntando se a professora ia fazer um maço de provas, um dildo de maço de prova, e chuchar no rabo dele, e eu, haha, eu fiquei pensando, que literalmente, literalmente mesmo, nem isso era, ela teria de tipo, preparar o rabo dele com a prova, de algum jeito, cara, seja lá qual for, e comer, com a boca, tipo, morder, mastigar, engolir. Literalmente. Não me olhem com essa cara de nojinho, eu tenho a imaginação fértil, o cara falou isso e pan!, já me veio a coisa toda na cabeça.
— …
— …
— …
— Mas, ou, Isabela, sabe quem manda mó mal nessa? De literalmente?
— Quem?
— Seu Chames Choyce. Eu fui lá ler o que dizem ser o melhor conto dele, que brincou que eu vou encarar aqueles tijolões se o cara escreveu contos. Os mortos. The Dead. Começa com um literalmente, pan!, logo na primeira frase. Há! Achei que era da tradução, cacei o inglês na interntet e pan!, literally.
Isabela abriu a bolsa, rabiscou discurso indireto livre num caderninho, rasgou a folha e a entregou para Fernadinho:
— Vai estudar, Ferdinaaando.
O que nem de perto abalou o ânimo do rapaz.