PANTOMINA
O grande domo branco, de cerca de cinquenta metros de raio e quinze de altura, era sustentado por finos pilares que se arqueavam até o solo, em continuidade à curvatura do prédio, e por uma dúzia de grossas colunas fixas à sua base plana, remetendo vagamente às patas de um fantástico inseto gigante. Essa estrutura de suporte havia sido pintada com um tom de azul-marinho quase indistinguível do preto, de modo a desaparecer se justaposta ao céu escuro, sugerindo a um hipotético espectador noturno posicionado à distância a ilusão da cúpula flutuando a mais ou menos seis metros do chão, idêntica a um disco voador completamente estático.
O efeito era aumentado pela via que levava ao interior do domo, uma rampa levadiça que permanecia fechada a maior parte do tempo, conferindo um ar cerimonial às raras ocasiões em que era descida, e pelas fileiras de pequenas janelas, parecidas com as encontradas em aviões, que denunciavam a secção da falsa nave em quatro andares sucessivamente menos amplos.
Um estalido abrupto e metálico rompeu o silêncio da noite.
A rampa abriu, movendo-se lentamente, em velocidade constante, até se baixar por completo. O seu descerrar era normalmente acompanhando pelo progressivo acender de lâmpadas que, além de projetarem feixes de luz cilíndricos, feito putativos propulsores, clareavam gradualmente a extensão das colunas, gerando a impressão de que o disco, depois de um tanto bom de flutuação imóvel, tivesse enfim pousado, fixando-se à superfície de nosso planeta com retráteis perninhas mecânicas.
As luzes, entretanto, não acenderam. A figura que surgiu, descendo lentamente, foi delineada somente pelo luar. Insólita era sua silhueta: um humanoide de cabeça grande e ovalada, com um manto sobre os ombros. Instantes depois, um alvo de um facho de luz vindo de dentro do domo, a criatura, já no chão, revelou-se humana: tratava-se de um homem de aparentemente quarenta anos, de pele clara, cabelo curto e barba raspada, vestido com uma justa túnica negra e uma capa vermelha, de gola levantada. Usava em volta da parte de trás da cabeça um estranho artefato prateado, assemelhado a uma enorme concha. Antes de seguir caminhando, virou-se para trás e, espremendo os olhos por conta da luz que lhe acertava as vistas, gritou para dentro do prédio hemisférico: