Rituais simples

There is a general consensus of evidence to the effect that the main object of the Quest is the restoration to health and vigour of a King suffering from infirmity caused by wounds, sickness, or old age.
– 
Jessie L. Weston – From Ritual to Romance

 

I.

Do alto da montanha
Trazemos essa lição
(No alto da montanha
Encontramos a raposa cinza)
(麻) é boa para o seu qi (氣)
Punheta
Não

 

II.

Visualize uma imensidão sombria
No preciso centro
Gira um halo azul elétrico
Lentamente
Emanando uma mensagem:

respire fundo

 

 

O Fim de Cláudio Tropigo

Escrevi alguns poemas quando triste (em algumas ocasiões, desesperado). Como esse tom me envergonha, como eu não quero ser essa figura, inventei o heterônimo Cláudio Tropigo (um nome à la personagem do Thomas Pynchon, caricato: Cláudio, claudicar, Tropigo, tropeço). Já que esses versos me vinham na fossa, ou seja, eram ocasionais, inventei a rubrica Poemas de Ocasião de Cláudio Tropigo.  Outro dia, estava olhando o que tinha lançado aqui de poesia e vi que Cláudio é mais assíduo do que eu lembrava. Percebi também que outras coisas que ia escrevendo estavam totalmente impregnadas de Cláudio: minha série Coisas Boas e Coisas Ruins (um exercício proposto por Ray Bradbury: faça uma lista com coisas que você gosta e coisas que você não gosta, isole-se durante pouco tempo, escreva a respeito delas; Bradbury escreveu Fahrenheit 451 assim, a partir de biblioteca, uma coisa da qual ele gosta) só tinha Coisas Ruins: era uma obra de Tropigo. Em a A Astronave Cai também estava ele, o mesmo desespero, o mesmo deboche niilista. Não renego esses versos, ao contrário, estou juntando todos em um livro, que será o segundo nascido a partir dos escritos que lanço aqui (o primeiro é Silhuetas, pela Editora Calamares). Vai se chamar A Astronave Cai ou Versos de Cláudio Tropigo (mas na capa vou fazer aparecer só A Astronave Cai). Pretendo iniciá-lo com um texto apresentando o heterônimo, Fernando-Pessoa-style. E aí morre Cláudio Tropigo. As mesmas condições que geraram esse eu-lírico (ansiedade, problemas de estima e aceitação, alienação, solidão, decepções várias, vícios) precisam de outra abordagem para serem superadas. Essa tem de ir. O que virá? Na verdade já veio, são poemas de alguma forma influenciados por Lucrécio (De Rerum Natura). Espero que cresçam e sejam um segundo livro de poemas. Continuarei também O Livro da Menina Lua.  E seu romance / novela, Nestor? O Esdrúxulo e Lúgubre? Bem, com essa certa mudança de ares, espero conseguir ressuscitá-lo e seguir com uma batida mais rápida.

Paia demais, fi.

É terrível ser tomado pelo pensamento do momento.  O pensamento ansioso, obsessivo, alinhado com os males do tempo, com os males do, como diz o outro,  Zeitgeist,  coloca toda a mente sob o seu domínio. Não sobra nada. Terrível. De tempos em tempos aparece algo dessa sorte, diminuindo a mobilidade, a velocidade da mente. Cansando a mente, gastando a mente. Tem sido isso e, é claro, estar sozinho, isolado. A vida real transformada num video game muito ruim. Eu vejo algumas pessoas que estão, apesar de tudo, felizes. Que dizer, elas me parecem felizes. Eu quase sinto que elas estão felizes. Assim… Apesar de tudo. De certa forma eu as admiro. Na verdade eu as admiro imensamente (como diz o outro, pra caralho). Eu não estou feliz. A quarentena veio e com ela vários demônios. Os demônios não são legais, desculpem-me os metaleiros. Escolhe-se Satã simplesmente por oposição à hipocrisia inerente aos padres,  às beatas, aos jovens candidatos a santo, e a toda a ICAR e à sua História complicada (como diria o outro, fuck’d up). Digam não a Satã, crianças. (Como diz o outro, o problema de Jesus é o mesmo do Nirvana: a fanbase). Mas, assim, sério, eu não aguento mais isso, a simples capacidade de pensar tomada pela urgência do tempo. O tempo que urge e foge, deixando coisas para trás, que no caso dele é para frente (assim, vocês entenderam). Impeachment da Dilma (olha, eu nunca fui petista, mas, como diz o outro, est modus in rebus, aquilo ali foi uma coisa muito feia), eleição de Trump, eleição de Bolsonaro e agora isso aí. Assim, eu tava precisando do meu cérebro e tal. Tá, como diz o outro, paia demais, fi.