— Mas, olha, olha que fantástico. Isso que o senhor está falando tem tudo, tudo mesmo, tudo a ver com questão do controle do padrão vibratório, que é, assim, uma técnica muito, muito importante pra gente da projeção astral — disse a moça da bata bege.
— Ah, é mesmo, minha filha?
Pereira não conseguiu acompanhar imediatamente a continuação da conversa, ainda cativado por aquilo que acabara de escutar. Ficara aterrorizado com a descrição da feminina criatura alienígena, imaginando-a como um híbrido de mulher e taruíra, um ser de pele fina, fria e pegajosa (como também pareciam frias e pegajosas as mãos do velho). Além disso, compadecia-se com o Sr. Hidelbrando, com a sua dificuldade de conseguir o que Pereira resolveria, várias vezes maquinalmente, com quinze minutos no banheiro, entregue a uma memória ou, mais frequentemente, fantasia libidinosa.
A dor do velho funcionava ainda como lembrança de que Pereira, caso chegasse a tal idade (tendo o velho algo entre setenta e oitenta anos, estando até muito conservado, aparentemente independente da ajuda dos outros para conduzir sua vida), também teria de lidar com esse e mais problemas, muito provavelmente sem a intervenção de seres vindos do espaço.
Olhando para o senhor, tetando não sentir dó, seguindo aquela máxima popular de que o dó é o pior sentimento, Pereira, que não levou a sério nem uma só palavra do relato, desejou imensamente que aquilo fosse verdade, verdade pelo menos para o velho, e que Cármen, ali Mestra Intreza, tivesse alguma forma, a forma que fosse, de ajudá-lo.
Dada a sua repentina loquacidade, pareceu então que era agora a vez da moça de bata bege de expor os seus motivos para estar ali, no que seria esse vestíbulo da Associação Transcendental Amalantrah. Com a musculatura do ombro e pescoço visivelmente retesada, inquieta em sua cadeira, piscando em excesso e descerrando um amplo sorriso, ela lembrava uma apresentadora de programa infantil cocainômana:
— Assim, né?, a projeção é uma das técnicas, talvez a principal técnica que eu uso no meu ofício de — inclinando a cabeça levemente para trás e arregalando os olhos, olhos já com branco demais — life coach. O senhor sabe, vocês sabem, o que é um life coach?, o que é coaching?
— Ah… — no que o velho tomou a palavra com um gemido desarticulado, levantando debilmente o dedo indicador ao ar, um gesto perdido entre a criança que anuncia à professora que tem uma contribuição à aula e um sábio salientando a importância de sua lição — seria, seria, ahn, um… Técnico para a vida?
— É, exatamente, um técnico, um treinador, né? Um treinador para a vida, exatamente. E ele vai estar o que? Ele vai estar apoiando, assim, proativamente, ele vai estar apoiando o cliente, né?, que é o coachee, né? —e então a moça fez um minúsculo intervalo e sorriu, como às vezes sorriem os professores ao discorrer, achando graça de um detalhe ou minúscula reviravolta que para os demais não poderia ser mais desinteressante — ele vai estar apoiando o coachee a — contando os verbos nos dedos da mão direita — descobrir, criar e sustentar… O que?
Hildebrando produziu som amorfo com o fundo da garganta. A socialite morena disse “Diga-me você, querida”, só com o mover dos cílios. Pereira ainda pensando no gozo de origem alienígena do Sr Hildebrando, ignorou a pergunta.
— O que ele mais quer, gente! O que ele, o cliente, né?, mais quer e, assim, mais deseja, deseja profundamente para a sua vida. Assim, o life coach obtém várias informações, né? Pesquisa meeesmo os, assim, valores e crenças do cliente, né? Para estar conseguindo isso. Gente, é difícil, tá? Porque às vezes as pessoas não sabem o que querem. É sério, muita gente não sabe o que quer. Uma coisa é você querer ter um carro assim, assado, né? Mas o que eu quero, assim, da minha vida? Como eu vou desenvolver, como eu vou, assim, investir, investir em mim mesmo, né, empreender, fazer de mim esse empreendimento, se eu mesmo não sei o que eu quero? O life coach também vai estar atuando aí, ajudando a pessoa a des-co-brir o seu sonho… E aí, é um processo, né, gente?, uma caminhada mesmo, partindo de onde a pessoa está até onde ela quer estar, até esse estado desejado. E quem não quer, né?, estar dando esse salto?, quem não sente essa distância, entre o que somos e o que queremos ser…
— Dever ser… — disse Hildebrando, solenemente.
— Ah! Claro Sr. Hidelbrando, viver a vida ao máximo é uma obrigação que devemos ter conosco, é mesmo, estarmos conseguindo usufruir do má-xi-mo da vida, sim, é um compromisso. É sim um dever ser. E para isso as pessoas precisam… E se não realmente precisam, podem sim se valer muito de alguém que as dê, profissionalmente, profissionalmente, né, gente?, uma — pisca, pisca — orientação positiva para a vida. Para deixar, ó, deixar, jogar fora, deixar de lado, dizer, isso não me pertence, jogar fora todas as neuroses. É, sim. Deixar de ser medíocre, neurótico, disfuncional. Sabe?, sabe?, é a ação no mundo! A preparação para a ação no mundo! Com esse — soquinho na mão espalmada —, com esse objetivo final. O êxtase. Contínuo.
E então a ela fez uma pequena pausa dramática, olhando todos os ali presentes com uma carinha de falsa condescendência.
— Isso mesmo. Êxtase. Contínuo. O êxtase contínuo de se viver de forma plena. Ple-na. Ser na vida um ás. Um ás, sabe? Não ser bom, não ser muito bom, não ser excelente, mas ser um ás.
Ela esperou por expressões e interjeições de admiração. Simplesmente não vieram. Não porque aquela pequena apresentação não funcionasse, funcionava, ou, pelo menos, funcionava na maior parte das vezes: ela de fato vivia disso. A questão era que o Sr. Hidelbrando, um etarista militante, a considerava nova demais para orientar qualquer pessoa acerca de qualquer coisa; Pereira ainda estava meditabundo, pensando em impotência e punhetinhas cerebrais espaciais, enquanto Olímpia, ainda que escondesse, por dentro virava os olhos para qualquer exaltação ao esforço, ao exercício ou à meritocracia, atribuindo tudo o que é essencial à pessoa a uma questão de, essencialmente, berço. Berço que ela tinha e a moça não.
O Sr. Hidelbrando, entretanto, ainda que até ali não tinhas e impressionado, deu continuidade à conversa, porque, em razão de sua solidão contínua, esse era mais ou menos o seu procedimento padrão, interpelar a maior parte das pessoas em seu caminho e tentar arrastar ao máximo até a mais insossa das conversas. Além disso, como tratava-se de algo novo para ele, com um nome em inglês, maiores informações eram necessárias, até mesmo para talvez refutar a coisa toda:
— Tem escola disso, faculdade disso?
A moça da bata bege apertou os lábios brevemente, mas com força o suficiente para que por um instante eles ficassem esbranquiçados, e então falou:
— Então… Eu fiz vários, vários, cursos, sabe? Eu, assim, sou sedenta, sedenta, por conhecimento, ai, minha atividade mental é, ó, — estalando os dedos com as duas mãos — frenética, frenética, então, assim, eu fiz vários cursos… E, assim, eu estou o tempo todo, o tempo todo não, é exagero, claro, mas, eu faço, ó, muitos retiros. Esse ano eu já fiz três retiros. Já se foram mais de seis mil reais, só em retiros. Agora estou no quarto e… Ainda vou fazer um no final do ano também né, gente? Claro. Cla-ro.
— Cursos… — murmurou o velho.
— E assim, muita leitura! — passando as páginas de um enorme tomo imaginário — Nossa, só de autoajuda… Só de autoajuda, hein? Eu li duzentos. Duzentos. Aí, somando com biografias, livros, assim, do lado mais espiritual, né? Dá duzentos e cinquenta. Assim, ler muito é um hábito meu, eu tenho o hábito da leitura. Mas eu sou muito séria, para mim o que importa é o pragmatismo, eu não perco meu tempo não, nunca leio nada, na-da mesmo de, assim, ficção, romance, essas coisas. Eu não quero nada com esses personagens e coisas que nunca aconteceram. Sério. O meu foco é o conhecimento, o conhecimento legítimo… Esses livros, eu construí essa bibliografia conversando com especialistas em várias áreas, experts mesmo, milionários, gente com ph.D, líderes espirituais, líderes empresariais, muita gente da indústria, sabe? Isso porque, assim, eu trabalho com muitos executivos, sabe?, gente de várias, várias, multinacionais… Eu tenho facilidade em lidar com essas pessoas…. Eu tenho isso em mim, sabe?, isso de me conectar com as pessoas, e também isso, de um senso, assim, pra negócios, sabe? E é essa questão do… Estilo de vida, né? Eu trabalho no final é com isso, né?, como vocês disseram, estilo de vida. Eu tenho de liderar, fazer a parte de marketing e — quase gritando no e — entregar os resultados. Assim, liderar pelo pelo exemplo. Aí, assim, eu tenho facilidade… Empatia. Ah, sim, a parte do marketing, assim, do negócio mesmo, nossa é muito difícil, né? Tem que estar o tempo todo… — aponta com os indicadores para um laudo e depois para o outro — Né?
— Mas, a… Projeção… — a interpelou o Sr. Hidelbrando.
— Ah, claro, né gente? A projeção astral. Assim, não existe isso de ser um life coach genérico, né? Por isso eu me especializei nessa questão, assim, da espiritualidade…. E, assim, convenhamos também que a própria espiritualidade, colocada assim, ai, é também uma coisa muito… Muito aberta… É necessária a especialização dentro da especialização, gente. Aí, quando eu conheci a viagem astral, a projeção astral, eu disse… É, tá aí! Esse vai ser o meu nicho.
A graça da moça de bata bege foi então revelada. O nome Flávia Cláudia Buffone brilhava em letras metalizadas no cartão que ela entregou aos presentes. Ao ler, debaixo do nome da mulher, Coach & Projecionista Astral, Pereira começou a se atentar à conversa, permanecendo calado só mesmo porque Hildebrando manifestara a mesma dúvida que lhe acometia:
— Mas… Ahn… Como a senhó- Como você chegou à Projeção Astral? Como se… Como se aprende isso?
— Hoje em dia… Olha, é uma coisa, assim que eu tenho de falar para as pessoas. A projeção astral não é coisa assim, de super-herói, tá?, coisa, ai, de gente dro-ga-da… Hoje em dia existem vários cursos de viagem, de projeção astral, vários livros, DVDs e também, ó, muitos, muitos centros esotéricos trabalhando… Com a viagem astral. Como… Como esse aqui né, gente?
E então Flávia Cláudia levantou os braços e olhou em volta de si de forma artificial e exagerada, apelando para a presença de todos ali, na Associação Transcendental Amalantrah, como um sério indicador que a conversa dela era, afinal, séria. Antes que qualquer consideração pudesse ser feita, retomou:
— Mas, então, gente, o que é a projeção, ou a viagem, astral?
Mas uma pausa dramática, como se um vídeo estivesse sendo gravado e ela fosse inserir, na edição, uma vinheta (música eletrônica misturada com um canto monótono, flautas e tambores) com umletreiro chamativo naquele intervalo. O seu pequeno público ficou sem entender a demora, mas, como se alguém por detrás de uma câmera digital amadora dissesse “Vai, Flávia!”, Flávia foi:
— Então, gente, a viajem astral, não é nada mais do que o ato de estar conseguindo sair, com o seu corpo energético, do seu corpo físico, só que com consciência, gente, com to-tal, total lucidez! E, assim, uma vez que você sai, pode estar fazendo as suas viagens, ou, assim, qualquer atividade, sabe, nesse sentido… Estar se desdobrando do próprio corpo… E, gente, não me olhem assim, tá?, porque, assim, sério, gente, todas as pessoas, todas as pessoas se projetam, assim, inconscientemente e sem o controle, sem a lucidez, do projecionista treinado, sabe? Não é assim, uma coisa para pessoas especiais, tá? É uma coisa, é uma habilidade para quem quiser, para quem tiver o com-pro-me-ti-men-to necessário. E, aí vocês perguntam, pra que eu vou tá fazendo a viagem astral, porque eu vou tá projetando, assim, o meu corpo astral, o meu corpo energético, minha alma? Gente, tem infinitas razões, tá?, infinitos porquês. Imagina, essa possibilidade, gente, que possibilidade!, de se desvincilhar — entrelaçando dos dedos das mãos e então os abrindo lentamente, como se fossem pétalas — ai, de se libertar do corpo físico? Você pode tá visitando seus guais, tá?, seus mentores, você pode tá descobrindo, fazendo uma verdadeira arqueologia pessoal e espiritual, descobrindo coisas muito importantes acerca das suas vidas passadas, e até mesmo alguma coisa sobre a sua missão de vida agora, a missão da sua alma, o que é superinteressante, né?, você pode ainda tá ajudando, assim, no astral, espíritos necessitados, tá?, desencarnados, que precisam de um trabalho, precisam de uma luz ali, né?, você pode tá inclusive viajando, viajando no espaço e no tempo, né?, visitando lugares e fazendo, assim, pesquisas, né?, por exemplo, ai, gente, estudar, imagina?, estudar o Zoroastrismo lá na Pérsia da Antiguidade, conhecer os próprios magi, gente, ai, imagina…
Ao que Sr. Hidelbrando começou a ficar agitado, passando a mão por sobre o lábio superior, alisando o ausente bigode; Pereira anotou “superpoderes” em seu caderninho, fazendo raios infantiloides saindo em volta do escrito, e Olímpia se ateve a, muito lentamente, descruzar e cruzar as pernas, com a mesma naturalidade de um dormente que, ainda bem longe da vigila, troca o ombro sobre o qual dorme.
— Gente, é o instrumento mais poderoso de conhecimento, de crescimento, gente. O mais poderoso, tá? Olha só, gente. Vamos pensar. O nosso corpo físico, pesado, denso, precisa de muitos cuidados, precisa de comida, e isso, gente, é superimportante também, a gente tem de pensar muito, muito mesmo na nossa dieta, e sono, gente, tá, é essencial dormirmos… Mas, ó, é o corpo físico que precisa desses cuidados… Vocês acham que o nosso corpo energético precisa disso, precisa de dormir? Não, gente, claro que não. E então, que tal estar aproveitando essas seis, sete, oito horas de sono para algo mais? Você pode usar essas horas, projetando sua consciência, para tá aprendendo, para fazer algo realmente, algo prático, útil na sua vida, tá? É difícil, né?, eu não consigo fazer, assim, tuuudo o que eu quero quando estou acordada, ai, é também um jeito de usar melhor, de tá administrando o seu tempo… Né?
— Mas você, Flávia, já conseguiu isso, viajar no tempo, como é? — Perguntou Pereira, por um instante sinceramente tentando entender a questão.
— Mas, é um desafio gente, eu disse que não é para pessoas especiais, mas assim, em termos, tá?, é pra gente que é guerreira, guerreira. Quem faz projeção astral é guerreiro, tem de ser guerreiro demais, para conseguir dominar a técnica, tá?, tá conseguindo se projetar quando você quiser, onde você estiver, né?, conseguir, assim, tá direcionando a sua viajem, né?, conseguir tá mantendo a sua consciência, a sua lucidez, né? É difícil atingir, assim, um grau satisfatório dessa técnica… Sabe, conseguir chegar a e manter o mindset necessário e, e depois, seguir naquele flow, sabe?
Ao que Pereira ergueu a mão, como se quisesse repetir a pergunta não respondida, sendo, porém, interrompido por Hidelbrando:
— Também quero fazer uma pergunta!, é… É… E… E no espaço, você pode fazer uma viagem astral no espaço sideral?
— Ass-
— E! E… E o que você disse, é…. Esse negócio de… Padrão vibratório?
— Então, gente… Vamos lá, né? Uma coisa de cada vez, né? Ó, sim, a resposta para a primeira pergunta é sim, já consegui, mas foi só uma vez, e, assim, foi muito rápido, muito rápido mesmo. Eu fiz minha projeção, né?, eu tava então me projetando, tá?, e aí, gente, eu me vi, assim, andando na rua, em Paris, que assim, é um lugar que eu conheço, né?, que eu conheço Paris, tá?, mas assim gente, olha só, não era a Paris que eu conhecia, tudo parecia assim mais, ai, gente, vintage?, e eis gente, que eu tô Paris ocupada pelos alemães na Segunda Guerra, e assim — estala os dedos — assim que eu percebi onde estava, eu perdi o controle da minha projeção, da minha consciência e, gente — jogando a cabeça para trás e virando os olhos artificialmente —, gente, num instante eu estava de volta aqui, sabe?
— Como num sonho? — Pereira perguntou ao mesmo tempo que fingia fazer anotações em sua caderneta, sem levantar os olhos, mas projetando um pouco a voz, um artifício que ele julgava lhe emprestar um ar profissional, o tipo de coisa que usava com guitarristas falastrões semi-desconhecidos.
— Sim, um sonho lúcido — subindo tom no lú, fazendo biquinho — sabe? Um sonho no qual tudo aparece assim, em alta definição, e você está consciente…
— Ah, então…. — Pereira olhou para moça, erguendo uma sobrancelha — então o sonho lúcido é a viagem astral?
— Assim, no meu entendimento, assim, sim, por isso que…
O Sr. Hidelbrando limpou a garganta ruidosamente e disse, estridentemente:
— E no espaço?
— Então, é possível estar sim viajando, pelo astral, no espaço, senhor… É muito difícil, porque a gente precisa conhecer o lugar. Ter alguma relação, alguma coisa que, assim, te ligue ao lugar facilita tudo, mas, com muita prática, é sim possível, senhor, estar fazenda uma viagem, assim, no espaço.
Ao que o Sr. Hidelbrando ficou olhando para Flávia Cláudia abobalhado. Ela prosseguiu:
— E, bem, é… A questão do padrão vibratório, é a energia que vai fazer com que os seres do astral te enxerguem ou não, eles se comunicam de acordo com a sintonia. Se você estiver em baixa frequência vibratória, você vai atrair espíritos baixos, mas, numa frequência vibratória, assim, elevada… No caso do senhor, né?, o senhor estava lá no seu jardinzinho, que deve ser um lugar de muito cuidado do senhor, de muita energia, depois de um dia de vários afazeres, né, de trabalho, e assim, o senhor estava pronto para de deitar, né?, aberto assim para experiências sutis, né?, e assim, o senhor estava lendo, a leitura, a leitura é também uma viagem, né, um ato, assim, mágico, né?, e aí o senhor pode ter elevado o padrão vibratório do senhor, assim, chamando essa criatura…
— Você, você acha ela veio pelo astral?
— Pode sim ter vindo, uma criatura de outro planeta que se projeta no astral, né?, assim, existem várias. Pode muito bem ter sido.
Sr. Hidelbrando, num estado de total maravilhamento, continuou olhando para Flávia Cláudia, agora quase como se ela fosse uma parenta, algo como sobrinha-neta querida.
Pereira, maravilhado por sua vez com a facilidade com a qual os dois, em pouco tempo, encontrara um terreno em comum dentro de suas experiências paranormais, rabiscou “dialetos diferentes da mesma língua” em seu caderninho e, virando a página, mais uma vez de olhos abaixados, perguntou:
— E, ahn, Flávia, você está aqui na Associação para…
— Para fazer um trabalho, né?, de blindagem do corpo astral, assim, blindagem do corpo energético com Mestra Intreza, para que me proteger, né?, nas minhas projeções pelo astral.
— Mas… Assim… Eu não vi isso listado no site…
— O que aparece no site é só aquilo oferecido ao público geral, não iniciado…
Aeris, em seu paço soldadesco, reapareceu na sala com uma pasta de couro mole, castanha e bastante surrada, da qual retirou uma duzia de cabos. Antes de começar a testá-los, olhou para os três e, encontrando-os aparentemente relaxados e talvez até mesmo entretidos, sorriu, parecendo então um pouco menos apressada:
— Ah, olha só, que bom, vocês estão se dando bem…